sexta-feira, 13 de março de 2009

Índia

O país do momento é a Índia. Pelo menos aqui no Brasil vai ser o tema de vários almoços de família, conversas em mesas de bares e em salões de beleza por dois produtos culturais atualmente de sucesso: a novela Caminho das Índias e o filme Quem Quer Ser Milionário?

Apesar de não assistir novelas pelo simples fato de que existem coisas bem mais interessantes, posso afirmar que, como qualquer outro exemplo desse tipo de produto, a visão que se tem da Índia provavelmente deve ser esteriotipada e superficial.

O filme, por sua vez, possue a visão oposta extrema. Sem concessões, o diretor Danny Boyle não se refreia a mostrar toda a pobreza de um país em que a desigualdade social é uma das mais gritantes do mundo.Também não se constrange em usar essa pobreza radical como pano de fundo de um enredo complexo, em que um rapaz pobre usa sua experiência de vida para responder perguntas em uma espécie de Show do Milhão indiano. Um tanto apelativo por uns momentos, o filme mais vale como entretenimento da melhor qualidade.

Porém, acredito eu que uma visão melhor sobre a Índia está no documentário Nascido em Bordéis. O filme acompanha a trajetória de um grupo de crianças nascidas em Calcutá, uma cidade formada basicamente pela prostituição (sendo, também, o futuro da grande maioria de quem ali nasce). A fotógrafa americana Zana Briski, impressionada com a curiosidade das crianças pela fotografia, decide dar um workshop com noções básicas. Disso, saiu uma interessante e talentosa visão de mundo através do olhar das crianças.

O mais emocionante e tocante de tudo é perceber que, mesmo em condições extremas de pobreza e sem perspectiva alguma, as crianças têm uma alegria de viver que ultrapassa qualquer dificuldade. A parte em que elas veem o mar pela primeira vez é de encher os olhos, e faz qualquer um questionar seus próprios valores e objetivos. E Zana Briski faz isso tudo sem recorrer a sensacionalismos e melodramas, o que lhe valeu o Oscar de melhor documentário em 2005.

O trailer do documentário:

sexta-feira, 6 de março de 2009

Jonas Brothers

Eu não tenho nada contra essas sensações adolescentes. Pelo contrário, acho que são necessárias para o longo e penoso caminho até uma certa maturidade intelectual e cultural. Existe algo até mesmo de saudável nelas, mesmo porque ninguém já nasce lendo/ouvindo/assistindo o que existe de melhor no mundo cultural. Fora o fato de que algo estritamente pop é sempre bem vindo para os momentos em que tudo o que você necessita é de algo levemente desprentesioso (a última a que me aventurei foi Crepúsculo, e não me arrependi).


Foi assistindo a última edição do Grammy Awards é que fui me deparar, pela primeira vez, com esses Jonas Brothers. Ídolos de 10 entre 10 garotas de doze anos de idade, obviamente, eu já havia ouvido falar nos rapazes. Mas, se apresentando ao vivo foi a primeira vez, e confesso que não consegui enxergar nada além de muito marketing da Disney.

Particularmente, acho que verdadeiros artistas provam que realmente o são quando estão no palco, se apresentando. É lá que mostram que não são truques de estúdio; que na verdade são superiores a suas versões digitalizadas; que conseguem provocar reações da platéia de forma espontânea e por nada mais além da música, e não por beleza ou por pedidos insistentes para que todos se animem (os tais dos "come on, come on"....ou, na versão brasileira - baiana "tira o pé do chão, tira o pé do chão"). Pelo menos é tudo isso que eu percebo nos DVD's de shows de artistas que eu admiro. Algo completamente ausente na apresentação dos irmãos no Grammy. Me espantou o fato de que a premiação mais famosa da música tenha dado espaço a esse tipo de atração em detrimento a artistas muito mais talentosos.

E não querendo ter ataques de saudosismo ou coisa parecida, mas quando eu era adolescente haviam três irmãos que também tocavam e cantavam, e eram ídolos das garotas: os Hansons. Acho que eles eram bem mais talentosos do que esses Jonas. Mas, também sei que a indústria é cíclica, e que a cada dez anos sempre tentam repetir os ídolos.

E mais uma coisa: eu não queria falar sobre isso, mesmo porque o que as pessoas fazem (ou deixam de fazer) com suas genitálias, bocas e orifícios realmente não me importa. Mas como os irmãos usam um anel simbolizando um voto de castidade, eu não tenho certeza até onde isso funciona como um golpe de marketing (algo como um desvio da atenção da música que eles fazem para outra coisa) ou como, de fato, uma filosofia de vida. Só posso imagunar o tamanho da força de vontade que se deve ter por ter vinte anos e pouco, ser famoso, rico, bonito, com todas as garotas querendo....errrr...te dar, e permanecer casto.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Na Natueza Selvagem


É impossível ficar indiferente ante a figura de Chris McCandless. Nascido em família financeiramente bem estruturada; aluno brilhante; inteligentíssimo; bonito; com futuro promissor depois de anos dedicados a uma brilhante passagem pela universidade, resolve jogar tudo para o ar, doa sua poupança para caridade, pega seu carro velho (e depois o abandona) e some no mundo, sem dar notícas a ninguem, sua família inclusa. É encontrado dois anos depois, morto, em um ônibus abandonado no meio da mata no estado do Alasca. Talvez por ser uma daquelas figuras que, de fato, faz algo que a grande maioria das pessoas apenas deseja fazer, ou talvez por ser um daqueles poucos que querem resgatar aqueles velhos valores há muito esquecidos nessa sociedade um tanto nociva, ou talvez por provocar justamente o sentimento contrário (de que ele não passava de um egoísta, megalomaníaco e tolo), o fato é que McCandless, de uma forma ou de outra, fascinou e intrigou uma legião de pessoas.

Uma delas foi Sean Pean, de forma tal que escreveu e dirigiu Na Natureza Selvagem. Fato que provou, pelo menos pra mim, que além de um grande ator (ganhou o segundo Oscar da carreira recentemente) é ótimo roteirista e diretor de mão cheia. O filme tem todas qualidades que fazem dele excelente: elenco afinado (Emilie Hirsch provou ser mais do que ator teen), trilha sonora exclusiva de Eddie Veder e roteiro enxuto e comedido nos momentos certos.



Mas, é no livro que inspirou o filme é que se tem uma experiência mais profunda na vida e na jornada mortal de MacCandless. Apesar de todas as qualidades listadas acima, o filme não deixa esconder uma visão um tanto determinista de que a família de Chris foi a responsável por todas as suas ações até a decisão de sumir pelos EUA. Não chego a culpar Sean Pean (aliás, quem sou eu pra falar algo do cara? Talvez só pelo fato de ter batido na Madonna, pois não se bate em mulher, mesmo que ela seja a Madonna. Mas, isso é pra outro post), pois não existe como frear a vontade de se buscar uma explicação para o que McCandless fez. Aceito todas as liberdades criativas. Entretanto, pelo livro do jornalista Jon Krakauer a imagem que se tem da família é de uma amorosa e orgulhosa de seu filho de currículo impecável. Nada de brigas homéricas como as mostradas no filme. O que se nota pelo livro é um McCandless cada vez mais recluso em si mesmo, cada vez mais se sentindo inadequado em uma sociedade a qual não queria pertencer. Enfim, de um rapaz com problemas, sim, mas com ele próprio e com ninguém mais.

O livro só se perde um pouco quando o autor resolve compartilhar as suas próprias experiências de isolamento quando também era jovem (não é tão interessante quanto a de Chris), mas os "bonus" que se tem apenas no livro (como o final de partir o coração em que o autor acompanha os pais em uma visita ao ônibus onde o filho foi encontrado) o fazem valer mais a pena do que o filme.

Mais do que recomendado.