domingo, 28 de fevereiro de 2010

Como transformar um música ridícula.

Em primeiro lugar, tenha talento. Parece um tanto óbvio, mas ao menos para os engravatados das gravadoras que controlam o que as massas vão ouvir (ou não), talento é algo secundário. Peitões, bundas salientes e video clipes com poses sexuais substituem esse detalhe, na visão delirante-esquiziofrênica dos presidentes dos grandes selos.

Em segundo lugar, tenha bom gosto. Antes de se tornar profissional, só escute coisa boa. Aprenda a tocar o seu violão tentando imitar os seus ídolos. Como uma esponja, absorva o que de melhor eles têm a oferecer. Saiba compor como eles. Preste muita atenção no que eles foram fazendo durante suas respectivas carreiras.

Em terceiro lugar. por graça divina e genética, nasça com uma voz meio Cássia Eller com um quê de doçura marisamontiana. Para completar, tenha um visual um tanto androgeno só pra chamar um pouco mais de atenção.

Em quarto lugar, escolha uma música pop até a raiz, com um refrão que simplesmente gruda na cabeça de qualquer mortal acéfalo.

Em quinto lugar, seja Maria Gadú, mostre todo o seu talento e humilhe todo mundo fazendo uma versão completamente inacreditável de...pasmem!...Baba, da Kelly Key:



E disso fica a pergunta: existe mesmo música ruim, ou apenas interpretes ruins?

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Brilho Eterno


É a última vez que irão se ver. Na manhã seguinte, não vão se lembrar de mais nada. Vão se cruzar na rua como se fossem estranhos. Não vão ter nenhuma lembrança da história que viveram juntos. É como se nada tivesse acontecido.

Isso porque Clementine apagou Joel da sua memória, e ele, por vingança, resolveu fazer o mesmo. Mas se arrependeram no meio do caminho. Finalmente perceberam que são as memórias felizes, aquelas em menor quantidade mesmo (ênfase no "mesmo") que importam, mesmo que estejam em larga desvantagem quando comparadas com as ruins. São elas que nos definem. São por elas que acordamos todo dia e fazemos tudo. Em direção a elas que dirigimos.

Mas, não existe escapatória. Joel e Clementine tentaram, de todas as formas, fugir do esquecimento inevitável a que se colocaram. Nada funcionou. Tudo o que resta a eles, agora, é essa última memória.

Estão juntos na praia onde, ironia do destino, se viram pela primeira vez. Clementine, consciente de que esse será o último encontro, pergunta o que eles irão fazer. Joel simplesmente responde: "Nós aproveitamos".

É assim que filmes aparentemente sem importância se tornam o seus favoritos. Se você já passou por uma situação pelo menos minimamente parecida, ter um último momento com uma pessoa que você não irá ver mais, toda a cena ganha todo um significado diferente e pessoal.

É como se filmes fossem um espelho de uma realidade paralela. É se enxergar por atitudes de personagens que poderiam muito bem ser você ou alguém conhecido. E é, por essas e outras, que nenhum crítico de cinema vai te convencer de que esse ou aquele filme que você tanto gosta não passa de uma enganação, clichê, versão piorada de outro título, ou qualquer outra coisa insignificante dita por alguém que se separa, completamente e de forma esquiziofrência, de seus sentimentos ao assistir um filme.

A cena:

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Mark Ronson

Em meados de 2003, o nome Amy Winehouse já era relativamente conhecido na Inglaterra. Amy, e seu rosto até então sem o seu característico coque gigante, figurava em algumas aparições televisivas e posters espalhados pela cidade (como papai Winehouse diz, todo orgulhoso, nos extras do DVD Live in London). Frank, o primeiro CD da carreira da cantora londrina, atingiu vendagem considerável (quase um milhão de cópias no Reino Unido), com hits como Stronger Than Me e Take The Box.


Mas, foi apenas em 2007 que o nome Amy Winehouse tornou-se algo facilmente reconhecido em qualquer canto do planeta. Impulsionado (ou não) por escândalos, o segundo CD, Back to Black, vendeu mais de dez milhões de cópias; entrou para listas de melhores álbuns do ano (posteriormente, da década); Rehab foi uma das músicas mais executadas de 2007 e Amy virou estrela internacional. Um dos responsáveis pelo upgrade na carreira: Mark Ronson.

Encarregado da produção do segundo CD, Ronson resolveu explorar mais o lado soul das composições da Amy. Colocou mais batidas, adicionou mais som de metais e deu mais ênfase nos vocais. O resultado foi uma sonoridade meio nostálgica. Back to Black soa, às vezes, antigo em algumas canções, enquanto que moderno em outras.

Entretanto, muito mais do que ser o homem por trás de Amy Winehouse (sem piadas de duplo sentido aqui, por obséquio), Mark Ronson é músico de mão cheia. Prova disso é o album Version, que como o título diz, é recheado de versões de sucessos interpretados pelo o que de melhor a indústria muscial britânica pode oferecer.

A verdade é que Version tem tudo o que Back to Black tem de característico: as batidas pesadas e os metais gritando. Pensa em algo do tipo I Told I was Trouble, da Winehouse, que você tem noçao exata do que Ronson fez em Versions. O CD já começa com uma irreconhecível God Put A Smile Upon Your Face, do Coldplay. Segue com uma sólida Lily Allen em Oh My God (e olha que eu acho a Allen tão insossa...). Amy Winehouse, obviamente, não poderia faltar, com uma versão mais rápida de Valerie. Pra completar tudo, ainda tem uma versão inacreditavelmente viciante de Toxic, da Britney Spears, provando que música pop pode ser relevante, sim,dependendo de como se faz.

A faixa de campeã fica, entretanto, pra Just, do Radiohead. Impossível ficar parado:


Ótimo pra animar a sua festinha.




quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Video Games: eis a questão

Vicissitudes dessa vida (em sua versão futil-nerd): há cerca de mais ou menos um mês de voltar pra casa, entre praias e cafés de Auckland, uma vontade nerd se apoderou de mim. Eu mal conseguia ver a hora de chegar e terminar Final Fantasy XII, começar Silent Hill 3 e jogar qualquer coisa que parasse em meus joysticks pretos do meu querido e velho Playstation 2.

Qual foi a minha surpresa notar, já em minha terra natal e com controles na mão, uma impaciência crescente com video games? Eu simplesmente não conseguia mais me concentrar nos jogos. Jogava, no máximo, uns quarenta minutos e logo depois arranjava outra atividade ociosa pra me ocupar. Meu mundo caiu...Mentira, nem tanto. Mas, me surpreendi e muito com essa nova atitude em relação a um hobby que eu pensava jamais largar. Eu ainda me lembro muito bem dos meus discursos com amigos de pré-adolescência sobre ter trinta e cinco anos e ainda jogar a nova versão de Mario Bros. ou equivalente.

Pensei, então: "Isso é o que deve ser crescer". Começar a enxergar outras coisas, ver graça e significado onde você nem tinha idéia que iria, e no meio de tudo isso, ir deixando outras pra trás. Resolvi, então, usar esse tempo não gasto com RPG's e survivor horrors escrevendo mais nos blogs, lendo mais livros, assistindo um pouco mais de séries, filmes...Entrei em processo de luto com os video games, dei um suspiro e deixei essa etapa da vida de lado.

Mas...daí uma Sexta-Feira à noite ociosa, um amigo te convida pra conhecer a nova aquisição da sala de estar dele. E eis que você se depara com um Xbox 360 com Resident Evil 5 rodando em High Definition em uma TV de LCD. TENSO! Depois, em um Sábadão ainda mais ocioso, uma amiga finalmente te apresenta as maravilhas do Wii, comprado há mais de seis meses atrás. E você se lembra como games podem ser divertidos e uma excelente forma de extravasar stress acumulado.

E agora? Fazer o que com toda a convicção pseudo-amadurecimento-sem-games-filosófica-sociológica-quântica? Joga no lixo e espera o novo Final Fantasy sair?

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Lounge Music

Uma das coisas mais estranhas quando você começa a crescer é notar como o seu gosto musical vai mundando junto com o seu corpo. Pelo menos pra mim, os centímetros adicionados ao meu (belo) corpo (mentira...) acompanharam, no mesmo ritmo, uma certa evolução em termos musicais. Sendo um pré-adolescente em meados da década de 1990 (certo, já pode começar a fazer as contas...), já passei pela minha fase Nevermind da vida. Me lembro, especificamente, de como os Samashing Pumpkins me deixaram impressionado com aqueles video clips do álbum The Mellon Collie and the Infinite Sadness, em uma época em que a MTV ainda engatinhava no Brasil. Sim, eu assisti o começo da MTV no Brasil...um idoso, praticamente! Depois disso, passei a ouvir mais essas bandas de rocks mainstream, e até mesmo algumas mais antigas, sempre com a influência de amigos iniciados.

Mas...daí vem a idade e um certo amadurecimento. Você começa a ficar mais independente e infinitamente mais seguro da pessoa que você é. E o mais importante de tudo: você começa a saber exatamente o que você quer e o que gosta. E, obviamente, isso reflete no seu gosto musical.

Resultado: de rock e coisinhas mais pesadas, passei a coisas bem mais leves. Hoje, muito agrada o meu ouvido músicas com pegadas mais para o jazz, soul, folk e um bom MPB. Entretanto, o mais estranho de tudo, foi começar a curtir (e muito) um estilo que eu jamais pensei existir, e menos ainda me viciar: lounge music.

Pra quem não tem idéia do que seja isso, Lounge Music é como se fosse um estilo de música eletrônica, mas com batidas bem leves. É comum, também, que se misturem outros ritmos ao eletrônico (qualquer um que seja, como se pode perceber logo abaixo...só continuar lendo) e tambem vocais. Foi por causa dessas características que veio o termo "música ambiente". É ideal para restaurantes, bares e cafeterias com um ambiente mais intimista. Eu gosto para momentos quando eu quero desestressar a cabeça quente, para concentrar e para trânsito congestionado.

Existem vários grupos e DJ's que fazem esse tipo de som. Um dos meus preferidos é o Thievery Corporation. A dupla de DJ's vinda de Washington D.C ficou mais conhecida por uma música na trilha do filme-cult Garden State. Fãs da bossa nova brasileira, os caras também sempre misturam o ritmo brasileiro com as batidas eletrônicas. Um dos melhores CD's é o Versions que, como o nome diz, trás uma coletânea de versões muito bacanas de várias músicas.



Outro que sou viciado é o Air. Essa dupla francesa se destaca por não abusar muito do eletrônico e priorizar mais intrumentos reais. É comum nas músicas pianos, baixos e também vocais. O Moon Safari é um dos melhores albuns do gênero. Ficaram famosos, também, por terem feito a trilha sonora de Virgens Suicidas, da Sofia Coppola. É bem mais sofisticado do que o resto, talvez pela formação musical dos caras.
Um exemplo:


Outro totalmente fantástico e único é o Gotan Project. O trio (mais uma vez) francês, apaixonado por tango, resolveu misturar o ritmo argentino com batidas eletrônicas. O resultado inusitado da mistura é algo incrívelmente empolgante:



Mais do que recomendados!




segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Zooey Deschanel


Geralmente, a categoria de "cantrizes" muito me aborrece. Não consigo conceber de forma apropriada a idéia de que uma mesma pessoa possa ser igualmente boa em duas coisas. Você, minha amiga, não pode ser uma excelente atriz, e de quebra, uma cantora excepcional. A qualidade de uma não vai ser proporcional a outra, muito provavelmente. Colocando de forma bem simplista, é como se um bom advogado resolvesse ser, também, de um dia para outro, contador. Não que talento artístico se crie dessa forma, mas a idéia é mais ou menos a mesma.

Existem vários exemplos de cantoras que resolveram se aventurar na dramaturgia, e que o resultado beirou algo de, no mínimo, estranho. De mais fresco na minha memória é (ai, ai...uma que eu amo de paixão) Norah Jones naquele filme sobre coisa alguma chamado My Bluberry Nights, o filme americano do Wong Kar Wai. Ou então, o contrário mesmo: atrizes com carreiras consolidadas tentando soltar a voz, não é mesmo, Scarlett Johansson? Tenta mais, Scarlett, porque falar mal de você é algo que eu não consigo. Beijo na sua boca...depois me liga, ok? A única exceção que eu enxergo nessa categoria é Zooey Deaschanel, com a sua banda-duo She and Him.


Criada em parceria com o músico M Ward (se, por um acaso, você já assistiu o DVD Live in Austin TX, da Norah Jones, vai se lembrar do Ward como o esquisitão que...errr..."toca" violão no final do show), o CD intitulado Volume 2 simplesmente não sai da minha cabeça por mais de uma semana. Mesclando regravações de clássicas (a You Really Got Hold On Me aos suspiros dos dois é coisa linda de morrer, e I Should Have Known Better meio country é divertida) com originais (o single Why Did You Let Me Stay Here te deixa sorridente), o album se destaca entre todos esses trabalhos de "cantrizes" que eu já vi.

O grande diferencial é justamente uma postura que eu percebo na carreira da Zooey: um certo descompromisso saudável. Ciente de suas limitações como atriz, ela nunca fez um filme que exigisse performances incríveis. E o mesmo pode ser dito do lado cantora dela. Disso saiu um album divertido, original e completamente viciante.

Um dos vícios: