terça-feira, 17 de agosto de 2010

Aprendendo a dizer adeus

Charlotte e Bob Harris passaram uma semana em Tóquio. Entre pessoas estranhas, lugares nada familiares, relacionamentos perdidos com família e respectivos cônjuges, conseguiram alcançar uma intimidade e ligação tão forte, que a grande maioria das pessoas jamais vão experimentar.

Mesmo assim, mesmo se sentindo tão a vontade, mesmo não temendo represálias e pré-julgamentos (algo que só é possível quando compartilhamos sentimentos, receios e ansiedades com pessoas que realmente nos entendem), Bob Harris não consegue dizer mais nada além de "devolva meu casaco" como despedida. Um abraço constrangedor, pose para fotos, um último olhar de relance, corrida de táxi em direção ao aeroporto. E seria o fim de uma história.

Seria, não fosse uma coincidência-destino. Bob vê Charlotte em uma das calçadas, pede ao taxista que pare o carro e corre em direção a ela. E, finalmente, se despede de forma decente. Um abraço de verdade, um beijo de verdade e palavras sinceras em um cochicho. Bob aprendeu a despedir.

E o que mais me chamou atenção, depois de ter reassistido Encontros e Desencontros pela incontável vez, foi a cara de alívio e satisfação de Bob ao entrar no taxi depois da despedida (ponto para Bill Murray, grande ator). E me peguei a pensar: quantas vezes deixamos de contar às pessoas como elas são importantes? Quantas oportunidades perdemos de declarar aquilo que sentimos, por qualquer razão que seja? Quando foi que o medo da rejeição tomou conta de todo o potencial para ser feliz? É tudo uma questão de sorte ou azar. Bob arriscou, e foi embora para casa mais feliz. E, mesmo que a velha rotina, o trabalho, a distância e a volta da racionalidade diminuam tudo que eles viveram nesse lugar diferente, sempre vai existir aquela certeza de que um sabe exatamente o que outro significa. Porque eles tiveram a audácia de dizer.

Quantas pessoas sabem o que você realmente sente por elas?