domingo, 22 de novembro de 2009

Tarantino Inglório

Não, eu não gosto de Tarantino. "Mas, como assim? Você ama cinema, e não gosta do Quentin Tarantino?" me perguntam, incrédulos, todos os cinéfilos que mantenho contato. "Não", eu respondo. Sabe, acontece. Sou brasileiro e não gosto de futebol, só pra dar um dos inúmeros exemplos de exceção à regra. Obviamente, nesses tempos em que o novo filme com a marca Tarantino, Bastardos Inglórios, está em cartaz nos cinemas, e todos os veículos de comunicação (e todas as pessoas) ovacionando o longa, me sinto, não muito raro, em um daqueles episódios de Além da Imaginação. Eu penso: "Deus, o que há de errado comigo?".



Mas não que não tenha tentado gostar dos produtos Tarantino. Ah, eu tentei...se tentei! Só de Pulp Fiction foram três vezes. Sempre desisti logo depois da famosa dança entre o Travolta e a Uma Turman, quando os personagens começam a dialogar tanto, mas tanto, que mais parece uma peça de teatro.

O que me leva a primeira coisa que eu me dá no saco no Tarantino: os diálogos intermináveis. Nada contra diálogos grandes, mas se eles adicionam alguma coisa à trama como um todo, não existe problema. Mas, nos filmes do Tarantino...Ah! O monólogo sobre o Super Homem em Kill Bill - Volume 2! Ah, as dissertações sobre cinema francês em Bastardos Inglórios! Sim, Tarantino, todo mundo sabe que você ama cinema. E, sim, todo mundo sabe que você é o maior (e mais bem sucedido) geek do indústria do entretenimento. Mas, precisa mesmo escrever vinte páginas de roteiro sobre isso nos seus filmes? Muito mais do que criar uma certa verossimilhança a tudo, esses diálogos me entediam aos montes. Fora de brincadeira, acho que Tarantino tinha que escrever era um livro. Toda essa estrutura narrativa que ele utiliza em Bastardos, por exemplo, com esses capítulos e tudo o mais, parece não caber muito bem em uma linguagem cinematográfica. Não reclamo da falta de ação ou do ritmo dos filmes dele, mas sim de que existe algo que não combina muito bem. Cinema é a ciência de se contar uma história utilizando as imagens. Ao que me parece, Tarantino quer remar contra a maré. Quer utilizar as palavras.

Acho, também, que existe algo de estranho nas personagens que ele cria. Não gosto da forma que ele completamente as descarta a favor da história apenas, e não pelo que provoca no espectador. Nos filmes do Tarantino, as personagens são apenas joguetes do enredo. Tarantino não está preocupado em desenvolvê-las, mas sim em criar reviravoltas, "vai-e-vens" da história (daí veio uma das coisas pela qual ele ficou conhecido: a quebra do paradigma "começo-meio-fim" do enredo). O crítico Pablo Villaça disse algo que eu concordo totalmente: ninguém se emociona assistindo a um filme do Tarantino. Até que nesse Bastardos você começa a sentir algo pelo casal formado pelo Daniel Bruhl e a loira que eu esqueci o nome...até eles morrerem em uma piscina de sangue jorrando.

O que me leva à segunda coisa que eu não gosto: a violência completamente gratuita e descontextualizada. Violência nos filmes do Tarantino é só um gadget visual e nada mais. Parece um fetiche do cidadão. A violência jamais é usada como um auxiliar da história, mas sim como algo separado de tudo, quase uma personagem em si. Um filme do tipo Resgate do Soldado Ryan, por exemplo, ter pernas voando e sangue espirrando na câmera é aceitável. Afinal de contas, é sobre guerra e isso faz parte. Um filme sobre uma mulher que anda por aí com uma espada ninja, decepando membros de pessoas aleatórias que cruzam seu caminho soa um tanto apelativo. Não é a mesma abordagem.

Claro que isso tudo (quase detalhes na visão de alguns) é a minha parte "mimimi". Obviamente, não sou louco o suficiente em não admitir, por exemplo, que Tarantino tira do seu elenco atuações memoráveis (além de de ter um bom gosto para selecioná-los). E que ele também cria umas sequências que dão gosto de assistir, como todo o primeiro "capítulo" de Bastardos, da tensão camuflada, da dúvida criada, culminando na revelação dos refugiados.

Mas, é como dizem: ninguém é de todo ruim. Sempre existe alguma coisa boa até mesmo nas coisas (ou pessoas) que você não gosta. É só encontrar.

O Trailer: