segunda-feira, 17 de maio de 2010

As Horas (ou como estragar o seu carnaval)

Era carnaval de 2002. Sem nada de interessante a fazer em uma cidade que praticamente fica deserta nessa época do ano, resolvi ir ao cinema. Afinal, qual a melhor forma de aproveitar um feriado prolongado do que assistir a filmes em salas escuras? Argumento que seria válido se o filme em questão não fosse As Horas.

Elenco estrelar (Meryl Streep, Nicole Kidman, Ed Harris...), diretor respeitado, não-sei-quantas-mil indicações ao Oscar daquele ano. Expectativas nas alturas, e a intenção era das melhores possíveis. Achava que tudo o que eu precisava naquele carnaval meio-loser era um filme cult-inteligente para animar a folia. Ledo engano, meus caros nove leitores. Acho que foi a primeira (e olhando em retrospecto, a única) vez que saí emocionalmente e fisicamente esgotado de uma sala de cinema. Foi como se uma depressão em forma de vírus tivesse me atacado. A vontade era de nem me levantar daquela cadeira. Com esforço homérico, consegui. Mas, o caminho de volta para casa foi tortuoso. Tudo parecia, de repente, sem cor e vida. Eu ficava pensando na vida daquelas personagens, em como todos ficaram tão infelizes, e o que aconteceu para que tudo desse errado. Desnecessário dizer que As Horas me deixou um pouco traumatizado. Apesar de ter achado, sem sombra de dúvidas, um grande filme, achei melhor revê-lo apenas em caso de extrema necessidade.

Algo que só foi acontecer sete anos mais tarde. Engraçado notar como você percebe de outra forma o mesmo filme em épocas diferentes da sua vida. Vejo que o trauma e todo o drama de ter assistido As Horas em 2002 foi exagero de alguém facilmente impressionável. Só mais tarde, fui compreender melhor que a história de toda aquela gente que se tornou infeliz, aconteceu por tentativa e erro. Gente com todo o potencial do mundo para ser feliz, mas que no meio de tudo, por oportunidades perdidas e desperdiçadas, se perdeu. E o que restou, foi as horas. O tempo, infinito, em que eles têm que lidar com isso. E dessa vez, sem traumas e tristeza instantânea.

Lidei tão bem com a segunda assistida, que até comprei o livro que deu origem ao filme, um dos melhores que li na vida. Já disse antes aqui como eu admiro quem sabe escrever de forma objetiva, mas sem deixar a profundidade de lado. E Michael Cunninghan faz de forma espetacular. Além disso, o livro (como sempre) dá mais luz e entedimento em partes que ficaram dúbias no filme, como a relação entre Clarissa e Richard na juventude (o diálogo final entre os dois é de cortar o coração) e porque o último decide por acabar com sua vida. E partes que soam gratuitas ficam mais esclarecidas no livro, como o beijo lésbico entre Virginia Woolf e sua...errr...irmã.

Experiência livro-filme recomendada. Mas, cautela! Escolha algum feriado diferente. Nunca se sabe o que pode acontecer...

3 comentários:

Filipe de Paiva disse...

Amo esse filme e tenho muita vontade de ler o livro, mas fico com medo de me deprimir. ._.

Gabriel Leite disse...

É um dos meus 10 filmes preferidos de todos os tempos. Que diálogos lindos! Que montagens! Nossa...

E acho que o filme é tão bom que tenho medo de ler o livro e me decepcionar.

Nathy disse...

Ah, acho que estou precisando assistir pela segunda vez então. Lemro-me que assisti no cinema também e me decepcionei. Não gostei mesmo! A verdade é que muitas vezes é preciso assistir duas vezes mesmo né?! Isso é engraçado, mas é verdade! Quem sabe uma hora eu crie coragem...rs. Gostei do blog! ;)