quarta-feira, 3 de março de 2010

Um Olhar do Paraíso

Peter Jackson fez dois impossíveis (se é que tal expressão existe). O primeiro foi fazer quase o impensável: pegar a trilogia Senhor de Anéis e não apenas adaptar para o cinema, mas ainda assim transformar os filmes em marcos da indústria cinematográfica. Tarefa das mais difíceis. Se você já leu algum dos livros, sabe muito bem da complexidade do enredo e da riqueza dos detalhes. E, por incrível que pareça, apesar das mudanças, tudo está ali nos filmes de alguma forma.

Então, quando o diretor neozelandês anunciou que iria adaptar outro livro, The Lovely Bones, as expectativas de todos os mortais cinéfilos foram, obviamente, lá para as alturas (ainda mais pelo fato de que o enredo também flertava com a fantasia). Foi aí que Peter Jackson fez o segundo impossível: fez um filme bem mais ou menos.

Tendo como protagonista uma garota estuprada e assassinada, que narra diretamente do Paraíso como a sua família e amigos lidam com sua morte, o filme é carregado naquilo que o livro justamente quase não tem: fantasia. E o que mais falta ao longa de Jackson é justamente o que faz o livro da americana Alice Sebold ser incrível: uma dramaticidade das mais sinceras.


Juro por Deus, quando eu estava lendo o livro, em algumas partes eu tinha que dar uma parada porque as coisas estavam ficando tristes demais. Sebold descreve os personagens e as situações de forma tão verossímel, sem apelar ao melodrama, que é impossível não se envolver com os relatos do além de Susie Salmon.

Enquanto que no filme é tudo muito mal aproveitado. Personagens não se desenvolvem direito, subtramas se amontoam e a sensação é a de que o filme não tem um propósito definido. O grande problema foi o Céu do Jackson. Obviamente que uma cabeça imaginativa e inquieta como a do diretor não iria se satisfazer com o Céu simples descrito no livro. Mas, era dessa simplicidade que vinha toda a força dramática. Susie Salmon do livro via a sua família e amigos crescendo, vivendo as suas vidas, se apaixonando, mudando, etc. de cima de um Paraíso solitário e sem graça (era um high school americano sem ninguém, além da amiga). Você sentia a inquietação dela por não aceitar a morte e, mais por importante, porque ela queria tanto voltar.

No filme, o Paraíso mais parece um exercício de imaginação de Peter Jackson. E o mais estranho de tudo: era afetado pelos os que os vivos vivam (dããã! Sou gênio com as palavras, fala sério). Mas, claro! As imagens são simplesmente maravilhosas e provam o talento do cara.

Entretanto, para uma experiência mais completa de The Lovely Bones eu mais do que recomendo o livro. E fico na torcida para que o próximo projeto menos ambicioso de Peter Jackson se aproxime mais de Almas Gêmeas do que qualquer outra coisa.
(Que?! Nunca ouviu falar de Almas Gêmeas? Faça um favor a seu futuro cinematográfico e assista nesse mesmo instante esse filme!)


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