segunda-feira, 19 de abril de 2010

As Melhores Coisas do Mundo


Me chapou por completo. Não consigo me lembrar da última vez em que eu saí de uma sala de cinema, assim, quase meio zonzo. Em que eu ficava com o filme na cabeça, mesmo muito tempo depois, pensando nas personagens, nas situações, em toda a trajetória. Como se tudo tivesse acontecido com alguém que você conheceu, um amigo, parente, você mesmo. São poucos os filmes que conseguem esse tipo de reação em mim. E, pela primeira vez, é um nacional. Mais orgulho de ser brasileiro pelo cinema do que futebol, praticamente.

A verdade é que eu simplesmente tenho uma queda muito grande (um abismo, quase) por textos que desconstroem esteriótipos. E todo esse processo em As Grandes Coisas foi feito com grande maestria e sensibilidade. Tendo isso em mente, não se deixe enganar pela introdução do filme: Mano e seus amigos, entre cigarros e bebidas, vão a um puteiro no centro de São Paulo. Enquanto os seus amigos aproveitam os vinte minutos a que pagaram, Mano prefere desconversar e disfarçar. Depois de uma confusão no estabelecimento, os garotos fogem pelas ruas, sem conter a dupla excitação de toda a situação.

Mas termina aí o retrato da adolescência como indivíduos apenas interessados em sexo, bebidas e confusão. Pelo menos para o Mano, toda a sua vida, depois disso, vai ter que ser refletida e, muito mais importante, ser adaptada pela dura realidade.

Ele aprende ainda muito cedo, por uma série de situações, que nem sempre a vida vai ser como imaginamos, e o que fazemos dela é o que importa. E, pra um adolescente, ainda imerso em tantas fantasias e expectativas, não tem coisa mais difícil. Ele aprende que se apaixonar por beleza não é a melhor das coisas a se fazer. Que amigos possuem características que nos decepcionam, e por isso mesmo, existem alguns que temos que deixar pra trás. E como consequência, aqueles verdadeiros amigos, que vão ficar ao seu lado em qualquer tipo de situação, são aqueles que menos esperamos. Amizade não se escolhe, acontece. Ele aprende que pessoas podem nos surpreender, e que ajuda vem de gente que jamais imaginaríamos. Oportunidades pra ser feliz existem por aí, mas é necessário enxergá-las. Reparar nas pessoas em volta, pois quando você menos espera, tem alguém especial do seu lado.

Se não fosse sufuciente, As Melhores Coisas do Mundo ainda entra para o seleto grupo de filmes nacionais que retratam o jovem brasileiro, essa parte da população até então negligenciada pela sétima arte brasileira. E mais ainda: é um dos poucos filmes que foge do estigma de sempre retratar a pobreza, bandidagem e minorias raciais, que tanto incomoda o público brasileiro. Isso tudo partindo do básico: histórias simples podem, sim, emocionar as pessoas, mesmo que contadas em Português.

Um comentário:

Cris Cavaletti disse...

Estou muito a fim de ver esse filme.E realmente você falou uma coisa que tem sentido:vemos um milhão de filmes americanos de jovens,nacionais,nenhum.